quarta-feira, 26 de maio de 2010

tenho te lido,
deitado em tuas palavras
dormitado nos sentidos todos,
descoberto abertos acasos
me deixa encobrir a mim
nos teus versos.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Quando Ele se apaixonou
pela jovem filha do taberneiro,
houve um alvoroço surdo nas alcovas.



Farfalhar de saias sedas e rendas,
motivos de espelhos quebrados
vidros de perfumes espatifados...



Quando a jovem demonstrou seu amor
por Ele
só suspiros e ais,
muitas viúvas a chorar e lamentar,
os presentes e mimos todos guardados.



Ele tinha um amor,
de olhos novos para um cansado andar
boca florida de beijos
pele macia cheia de desejos desconhecidos.



Não foi por acaso que a rua
amanheceu cheia de fel
e a casa inteirinha cheirando a mel.

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato.
O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia,
meu endereço.
O amor comeu meus cartões de visita.
O amor veio e comeu todos os papéis
onde eu escrevera
meu nome.


João Cabral de Melo Neto

sábado, 22 de maio de 2010

Minhas madrugadas debutam sonhos
nos salões das putas, dos inválidos de alma
dos aleijões do amor.


Aragem fria da ilusão
preenche os cais dos desvalidos
desesperados e loucos.


Silencios curtos
entre os gemidos suspiros e gritos.
Manto indelével
cobre corpos copos e bocas.


E meus passos...
ecoam na alameda vazia
repleta dos meus anseios.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

quando os dedos frios
sentiram
as lágrimas quentes,
tomaram vida,
escreveram escreveram
podaram poliram apagaram
riscaram borraram,
rascunharam as páginas
com a história
malfeita desfeita
estreita e feia
daquele amor
torto.


saiu pela porta
correu na rua
ardeu de febre,
encostou no muro
doeu de paixão,
desmanchou se toda
sem lágrimas,
pisou na imagem
cuspiu na sombra
e seguiu...



dias gris
tardes sem cor
as flores no chão
colorem a desbotada
vida do passante.

...nunca serei este amor
apagado de ontem,
mas nunca serei,
ser este amor
é destruidoramente importante,
tristemente vazio

das não lembranças
e de todas esperanças,
ser este amor
hoje é uma dor,
não fui eu
não serei eu nem meu...
ficou no passado
teu passado
e me dói...
cortante até hoje.

enquanto a chuva cai
o céu molha o mundo,
afoga a dor lava e limpa
o sentimento azul profundo
intenso de amor ...
sózinho.

terça-feira, 18 de maio de 2010

quinta-feira, 13 de maio de 2010

tenho em mim carinho força
sensualidade e vontade,
desperta com teu cheiro
calor sorriso afeto,
poe na boca palavras
em desuso
sons que não eram ouvidos
gestos que nem existiam.


a ansiedade do querer
cada vez mais forte,
ter estar ficar ser.
uma pessoa como eu
uma pessoa como vc
um no ar
outro no mar.


urgente!!
precisamos de lemes
cartas de navegação
bússolas e mapas
corremos o risco de sermos
felizes...

terça-feira, 11 de maio de 2010

"Tive vontade de sentar na calçada
da rua Augusta e chorar,
mas preferi entrar numa livraria,
comprar um caderno lindo e anotar sonhos"
Caio Fernando Abreu

sábado, 8 de maio de 2010

a bela com asas nos pés
não sabia que aquele
semideus também
se encantava com
sereias
louras e morenas
bem ao sul
da américa do sul,
em oferendas o homem deus
jogava cestas cheias de poesias
dizendo estar ele numa teia,
de areias?
no céu um sorriso
a meia lua
luareia o amor
que ela sonha...

segunda-feira, 3 de maio de 2010

A SERRA DO ROLA MOÇA
Mário de Andrade



A Serra do Rola-Moça
Não tinha esse nome não...

Eles eram do outro lado,
Vieram na vila casar.
E atravessaram a serra,
O noivo com a noiva dele
Cada qual no seu cavalo.

Antes que chegasse a noite
Se lembraram de voltar.
Disseram adeus pra todos
E se puserem de novo
Pelos atalhos da serra
Cada qual no seu cavalo.

Os dois estavam felizes,
Na altura tudo era paz.
Pelos caminhos estreitos
Ele na frente, ela atrás.
E riam. Como eles riam!
Riam até sem razão.

A Serra do Rola-Moça
Não tinha esse nome não.

As tribos rubras da tarde
Rapidamente fugiam
E apressadas se escondiam
Lá embaixo nos socavões,
Temendo a noite que vinha.

Porém os dois continuavam
Cada qual no seu cavalo,
E riam. Como eles riam!
E os risos também casavam
Com as risadas dos cascalhos,
Que pulando levianinhos
Da vereda se soltavam,
Buscando o despenhadeiro.

Ali, Fortuna inviolável!
O casco pisara em falso.
Dão noiva e cavalo um salto
Precipitados no abismo.
Nem o baque se escutou.
Faz um silêncio de morte,
Na altura tudo era paz ...
Chicoteado o seu cavalo,
No vão do despenhadeiro
O noivo se despenhou.

E a Serra do Rola-Moça
Rola-Moça se chamou.




Templo Impuro...

as mulheres saem do salto
buscam no asfalto
o cetim áspero da vida
para dizer todo dia,
que barato e que foda
é ser Mulher!

libélula


o vento insano
ora sopra para o norte
ora para o sul,
não sabe que os
meninos
contam com ele para
fazer subir seus sonhos...