quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Mesmo quando paro de dançar
a música continua tocando,
sem o salão de baile
sou só mais uma doida,
que desprendeu do mural,
onde espetam as borboletas...


quarta-feira, 21 de novembro de 2012


Odilon Redon. FIANDEIRA

A cor da linha, clara, teceria o dia
nos fios poesia desenhada,
formando cachos enroscados
em dedos ágeis febris.
Cores neutras dizia o artista
nuances vivas, gritantes, dizia a tecelã,
seria uma composição sem rococó,
estilo arco íris ou céu de temporal,
nem um pouco pastel, nada de mel,
arrebenta o tear, 
ou torna viva a tela.

Cores vivas de uma terra hostil
Disse o forasteiro
No sabor da uva correm vinhos
No sangue, veias...
Tê-la é uma tela em branco
Vento minuano. Querência a soprar
Carências guardadas no ar.
(poesia com a participação de Américo)

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Escrevo-te. Não sei se devo.
Cá estou entre uma linha imaginária e outra, riscada no chão.
Demarco meus passos depois do susto e do aroma de flores,
sem nenhum plano B, nem ao menos uma rota, perdidos mapas,
lanço mão da lembrança para  embriagar os sentidos,todos.
Pudesse agora pulava da janela e saía voando, para longe,distante,
nenhum lugar perto de mim.
Quem sabe lá, consiga tomar aquela medida drástica...chá de limão ou menta...
Escrevendo tenho a completa noção da pessoa sem par, 
sem partir que sou. fico e sofro, vou e sofro.
Meus dias estão assim entre a linha fina que me corta e a outra que sonha, 
larga uma,  dilacerante, outra.
Amanhecer foi o mais difícil...




(foto de Américo Flavio)
Na mudança das estações, nenhuma flor geme.
Aparecendo o broto,
esplendor da natureza,
algum duende matreiro, sorri,
no jardim novo, floradas
e borboletas...
Suspiros nos quatro cantos
alguma fada perdeu  asas,
outra ganhou os ares.
Preciosos ritmos compassam
a passagem do rito.
Banhadas no pólen das sempre vivas
encontram o éden e o mistério gozoso 
no confessionário das brisas.


domingo, 18 de novembro de 2012

O beijo de surpresa
desprendeu os cabelos,
encheu a taça de malícia,
amanheceram madresilvas
na janela...

quarta-feira, 14 de novembro de 2012


Dizia abertamente o que tanto escondia,
eram tantos claros abrindo fendas
nada escuro, escuso, escondido.
Aberto limpo na cara,
descarado mesmo só palavras,
tantas, bastavam as reticências
do incomum transparente,
sem pena nem alicerce cada uma,
pedra contra o vidro, estilhaçado,
bruscas verdades descoloridas
cuspidas em frente ao vento,
beijadas com batom vermelho
sangradas na face  surpreendida

sábado, 10 de novembro de 2012



Se tem a senha 
das portas fechadas
não precisa facilitar,
sem  chaves,
adoro desafios,
não me subestime
a poesia suporta tudo
a mulher encara.

Neste calor que derrete até pensamento
tua fala no meu ouvido,brisa fresca,
encosto na tua pele  deslizo no suor,
aberto os olhos vejo estrelas na escuridão
se chover na madrugada, me molho,
encharco a alma nas poças do meu amor.

terça-feira, 6 de novembro de 2012



Sem véu ou grinalda,
pelo corredor da nave
leva o arco íris
numa almofadinha,
nada de marcha nupcial,
são os tambores que anunciam,
malabares nos ares,
sobe e desce o pano,
inicia o Grande Espetáculo.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012


Soube que voltou.
nada volta
e, se volta, vem diferente.


Não gosto do espelho. Esta lâmina fria que olha, através de mim, analisa, investiga. No silencio perturbador das questões pendentes grita ate me ensurdecer, me engasta numa solidão de farpas soltas na pele. Ao olhar de frente neste espelho, não vejo minhas asas, não ouso olhar de lado...

Já fiz isso, foi no momento que apareceu a bailarina, linda figura, imagem leve de um sonho, vi no espelho amorosa imagem feita de promessas. Alí o reflexo era feito de carinho generoso carinho. Não gosto deste espelho.

Meu olhar se perde em busca de outros olhares, presa no reflexo deste, meu mundo se fragmenta. Nada sei e quero entender porque não viro de costas(?) para onde olha o espelho quando não estou em frente? Minha vida feita de pequenas bobagens perde o sentido diante da magnitude do aço. Gostava de olhar o mundo vivendo nele. O magazine da moda diz: inconseqüências têm seu peso dobrado, sempre acredito nos magazines da moda.

Navegar dentro dos reflexos vendo a crueza que vive em mim é a pior medida, o sapato mais apertado. Sem melancolia ou tristeza, profundamente tocada pela imagem traidora de mim mesma por revelar nem o que admito, sofro. Odeio este Espelho.

Faço fita, mis-en-cène, sou exagerada, chorona, falo pelos cotovelos; gosto de abraçar, sou exibida; gosto de sair pelas ruas na chuva e gosto da noite, das madrugada de música; gosto de escrever. Não gosto de ser analisada nem por carinho nem por verdugo. Errada sou eu que não gosto do espelho.

Sou estranha, este espelhado vidro tem uma linda moldura dourada, que brilha ofuscando, gosto de olhar, desgostando do que mostra.
Cubro o espelho, vou viver, sem cenas.


Tem tangos nas minhas paredes,
danço vertiginosamente sobre teu olhar,
 espelhos riscados a faca no meu cenário,
vestidos acinturados com muitas sobre saias,
a música dolente, invade marca,
compassa e coreografa meus dias,
raios la fora indicam que tem ciúmes aqui.
Tua barba macia,
 sinal do destempero desta mulher,
brota uma louca, uma apaixonada,
 entre
uma poesia e um artigo policial,
nem sempre o amar é dançar em par,
matar faz parte do desejo e do sentir.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012


No cafundó sem fundo
o risco no olho da menina
tremia.
Olho de ver estrela
não estaciona em beira,
atravessa cheias,pega coriscos,
na boca o riso solto até desprende,
fica vagando,
combinando alma e ciranda,
não cansa,
descansa ao clarear o dia.

Venta,
sopra por aqui um cheiro de ontem
primavera mostra que é hoje,
vontade de encher de florzinhas
o emaranhado dos cabelos,
molhar de beijos a pele,
cantar no ouvido a mesma bossa,
que deixou na minha vida.