domingo, 5 de janeiro de 2020



Chegou de noite, do norte.
Entregou na rosa o coração,
era diferente, passageiro do mundo.
Viveu um sonho de algodão.

Olhos vagos cheios de lonjuras,
livres sem saber voar.
Dizia saber amar e escrevia
poesias breves letais.

Eram almas grotescas, retalhos,
de um mundo antigo.
Se conheceram a beira do amanhecer.
Ela sianinha ele gorgurão.

Trocaram as malas, espiaram as almas.
Suspiraram por dias, ele falou do passado.
Muitos fantasmas culotes decotes fricotes.
A janela posou aberta.

De manhã nenhum som. 
A cotovia já não sentia nada
se deixou levar pela ventania.
Levou a cortina, sem acabamento.

Leila Silveira




domingo, 23 de abril de 2017

Nunca fui tão linda, nem tão boa, nem tão eu. 

Mais facilmente me balanço na teia da aranha,
vejo flores de outras cores.
Passarinhos patinadores cachorros cantores.
Nunca fui tanto.

Caracóis com espanto e grilos com cara de doutores.
Cada passo tem outro sentido e o sentimento
não tem hora nem momento, é todo tempo.

A lua está mais fofa e cada estrela é um brinquedo.
Nunca escrevi tamanho amor.

Nasci para ser avó mesmo, desde pequena, hoje eu sei.

Vovó de novelo escrito, fios de luz para segurar poesia,
cadeira de balanço ta faltando, mas já tem história nunca escrita,
dedo na boca e olho no olho, 
tem joaninha de bolinha e entendimento que nem veio ainda.
Agora sou gigante.


domingo, 5 de junho de 2016

06/06

Pois nasci. 
Se foi por Graça, destino ou escolha, não sei.
Na palma da minha mão tem estranhas rotas,
sou feita dos experimentos elementares do mundo.
Ser feliz a maior parte do tempo
não é invenção,vivo intensamente.
Sou assim,vim assim.



terça-feira, 5 de abril de 2016

A poesia que tocava ontem
desfolhou todinha hoje,
antes de amarelar as folhas
antecipou a estação,
quando acabou o abraço.

 Colada no álbum, esvaneceu,
saiu janela afora
virou pensamento do vento,
cavalgando borboletas
fazendo tonalidades no esquecimento.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016



Vai caindo a tarde e a música é a mesma, de outro entardecer, como se o céu fosse um espelho dos dias aqui embaixo. 

São reflexos vadios, que voltam com as lembranças. 

Aquele olhar distante, aqueles planos, aquele sonho da fotografia,
quando minha mão e a tua faziam sombras alegres na calçada.

Nosso horário de passeio, acompanhar as luzes até a noite chegar, 
registrando as silhuetas,
os ciclistas, os encontros.

Quando tempo escrevemos nossa história, sob os jacarandás, acreditando que o destino nos pertencia.

Não precisou despedida, nossa flor não perfumava mais, quando a primeira estrela apareceu.