Bordando a vida num domingo cinza
ponto a ponto teço o desenho
de madrugadas sonhos e vazios
um alinhavo longo a espera
em ponto miúdo o pranto.
Fios cruzados emaranhados
tal sentimentos descobertos
a tesoura corta a sobra da linha
indecisa não consigo aparar
as sobras em que me transformei
Colorindo o pano vejo a vida
ponto a ponto tramo o desejo
viro do avesso descubro mais
os arremates não me dão a
liberdade de saber que já esqueci
Quase pronto e ainda indefinido
o bordado é uma tela espelho
vejo minha vida embaralhada
meus fios se enredam aos teus
entre nós laçadas pontos cheios
Pensei ter escolhido as cores
exatas certas definidas
ao clarear o dia percebo
meus fios todos cinza
tanto tempo tecendo no escuro
bordei a tela dos dias sem cores.