segunda-feira, 31 de agosto de 2009

P A T É T I C A
É chato viver e se envolver com a poesia doméstica
– papai e mamãe –
A poesia do dia, das horas comerciais
- poesia do “nana nenê” –
Eu não levo jeito prá isso,
Não me atrai, nem me distrai...
Aquela poesia cheirando a cebola sabão em pó,
detergente, ferro de passar, sobremesa creme com sagu,
torta de chocolate, nega-maluca,
chá de macela açúcar mascavo a última cirurgia e
a isquemia da vizinha chás bem comportados:
tricô, croché, biscoito de polvilho, bordados,
o regime “diet”, o baile de debutantes,
o jantar da liga de combate ao câncer
Quero a poesia boêmia,
poesia de botequim de poetas solitários,
sozinhos na turma na solidão das cordas do violão...
Quero a poesia chorada no copo de uma cerveja,
na dose de uísque “on the rock” e uma voz desafinada
cantando saudosa fossa na madrugada acordada...
Quero a poesia de alma sem rima, sem métrica,
uma poesia sofrida patética,
bem amada!

IONE JAEGER

Do livro Strip Tease , Ed. Milênios,1997

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