segunda-feira, 5 de novembro de 2012


Soube que voltou.
nada volta
e, se volta, vem diferente.


Não gosto do espelho. Esta lâmina fria que olha, através de mim, analisa, investiga. No silencio perturbador das questões pendentes grita ate me ensurdecer, me engasta numa solidão de farpas soltas na pele. Ao olhar de frente neste espelho, não vejo minhas asas, não ouso olhar de lado...

Já fiz isso, foi no momento que apareceu a bailarina, linda figura, imagem leve de um sonho, vi no espelho amorosa imagem feita de promessas. Alí o reflexo era feito de carinho generoso carinho. Não gosto deste espelho.

Meu olhar se perde em busca de outros olhares, presa no reflexo deste, meu mundo se fragmenta. Nada sei e quero entender porque não viro de costas(?) para onde olha o espelho quando não estou em frente? Minha vida feita de pequenas bobagens perde o sentido diante da magnitude do aço. Gostava de olhar o mundo vivendo nele. O magazine da moda diz: inconseqüências têm seu peso dobrado, sempre acredito nos magazines da moda.

Navegar dentro dos reflexos vendo a crueza que vive em mim é a pior medida, o sapato mais apertado. Sem melancolia ou tristeza, profundamente tocada pela imagem traidora de mim mesma por revelar nem o que admito, sofro. Odeio este Espelho.

Faço fita, mis-en-cène, sou exagerada, chorona, falo pelos cotovelos; gosto de abraçar, sou exibida; gosto de sair pelas ruas na chuva e gosto da noite, das madrugada de música; gosto de escrever. Não gosto de ser analisada nem por carinho nem por verdugo. Errada sou eu que não gosto do espelho.

Sou estranha, este espelhado vidro tem uma linda moldura dourada, que brilha ofuscando, gosto de olhar, desgostando do que mostra.
Cubro o espelho, vou viver, sem cenas.

Um comentário:

  1. Leila,eis aí a "bela" maldição diante do espelho! O texto está bem espelhado! Abraço.

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